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boas dicas, miados, risos

TOCA RAUL

27 julho 2003

Porque o que resta mesmo sao os amigos. Será o Benedito que o melhor mesmo é nao se relacionar? Nao mostrar os radicais livres?

Cases de outrens
Ela sabia de tudo, desde o comeco. A crianca sempre esteve lá. Ele sempre teve pais possessivos. Ela agora esconde-se na sacada, pois é verao e está quente, muito quente lá dentro. E o calor que no inverno aconchega, no verao queima. Deixa marcas. Fabrica canceres. Ela sabia de tudo, pensava que sim e disse sim, imaginando outra vida.

Eu comemoro com ein großes Bier a liberdade da mao direita. O médico me disse, teatralmente, italianamente, esticando os bracos pra frente ao mesmo tempo que abaixava a cabeca pra frente, que seria bom se eu nadasse. OBA! Ou entao ele me poderia enviar p/ a fisioterapia "foi falado para a paciente sobre a possibilidade de fisioterapia", ditou ele para a secretária, que havia me perguntado antes se estava tudo OK.

Ela tinha um namorado. Ele queria ser ator. Ela estuda história da arte. Ele trabalha num restaurante. Ela em Viena. Ele, em Stuttgart. Ligava sempre. Dizia "que pena" quando ela nao estava. Quando atendia, ela dizia "hey", em seu comedido entusiasmo alemao. Ha pouco tempo, ele passou a ligar menos. A nao lamentar tanto. Ela também. "Como vai ele?". Separaram-se. Por telefone. Ela nao está, na verdade, triste.

Eu estou em Viena. Meu namorado está em Kilago, nas Florida Keys. Muitos problemas desde que vim. No comeco, ligou ele, dizendo que iria se alistar. Em plena guerra. Alistar-se. Foi convencido a desistir. Eu preciso estudar e aqui é mais barato. Ele diz que nao aguenta sem mim. Que vai se jogar pela janela. Eu quero ser enfermeira e ajudar as criancas pobres da África. Ele diz que ou casamos ou está tudo terminado. Eu estou indo lavar roupa. Ele vem pra Áustria, sem saber nem querer saber alemao. Eu tenho que passar um mes com meus avós na Alta Áustria. Eu tenho que estar com ele. Com eles. Com minha chata Tante. Mas estou aqui em Viena e quero ser enfermeira.

Ela fez aniversário, 30 anos. Já morou na Turquia, no Tirol, em Viena e agora está em Paris. Convidou suas amigas para juntas beberem na cozinha do Studentenheim onde mora. Vieram amigas polonesas, brasileiras, italianas, portuguesas, belgas, alemas e americanas. Ela fala turco, curdo, alemao, ingles e está aprendendo frances. Ao final da festa, ficaram apenas algumas, as boas amigas. Ela tem lembrancas e quer contar algo especial. Infelizmente, algo nao muito leve. O ambiente está mais ou menos propício, nao há toda a atencao necessária para ouvir a história em que ela, quando crianca, teria sido molestada sexualmente. O vinho está acabando e muito pesa nas cabecas das mulheres. Ela teve outros homens, quando a memória ficou mais leve (ou mais opaca, ou mais distante). Aos 30 anos, quer mudar de vida.

Eu me casei. Meu namorado ficou este ano seis meses longe de mim, além-mar. Eu prometi a mim mesmo que ele nunca mais faria isto. Eu sou muito católica. Mas vivíamos em pecado. Minha prima, que casou com um homem que mal conhecia, tem a bencao de Deus. Eu conheco bem meu namorado. Eu sou a única com quem ele conversa. Preparei, entao, tudo pra quando ele chegasse: escolhi a Igreja, marquei a data do civil e do religioso. Contei pra ele. Contamos pra irma dele. Uma celeuma na família. Os parentes distantes gastariam uma fortuna em uma viagem internacional em alta temporada. Ela também foi pressionada, também vive em pecado com seu namorado. Mas eu me casei. Numa pequena igreja em Viena. Havia uma festa na comunidade local e fui mesmo o ponto alto, uma noiva atravessando o jardim, uns 50 metros pra andar com aquele rabo branco arrastando no chao. Casei. Agora estou em paz com Deus e comigo mesma.
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