artevida

Meu marido é pintor. De telas, nao de paredes. Vivemos em Moscou, mas expomos em toda a Europa. Vladimir-Petrov-Gladky é seu nome e o meu é Valentina. Nossa diferenca de idade nao impede que vivamos em concordância, principalmente porque eu preciso ajudá-lo com os contatos, sabe como é, um bom inglês sempre ajuda. Às vezes eu nao sei o que seus olhos um pouco estrábicos, nem tampouco sua expressao vidrada querem dizer. Fui sua aluna e conheco-o como ninguém. Admiro-o e, uma vez sendo ele meu companheiro, respeito e aceito suas decisoes. Ele gosta, por exemplo, de pintar corpos nus de mulheres. Também tubaroes e músicos um pouco equivocados em sua postura...Seu estilo um pouco naîve encontrou ressonância nas pinturas de Fuchs, representante do Realismo Fantástico vienense. E hoje é seu aniversário. Como presente, fomos ao museu ver a exposicao permanente de Fuchs. À noite, chamamos duas modelos, que posarao nuas para Vladimir. Eu nao me importo. Prepararei o caviar rosa e também a leve refeicao que seguirá a sessao de fotos. Ofereceremos também Vodca Russa, é claro, da melhor qualidade, comprada aqui mesmo em Viena. Nao pagamos as modelos, pois elas sentem-se honradas em posar para Vlad. Sentem-se tao felizes que até mesmo nao se importam se ele as toca durante a sessao de fotos e se, depois, ele as leva para o quarto ao lado e propoe uma sessao de carícias investigativas, para que ele possa também sentir a energia delas. E eu, talvez, neste momento, me retire. Ou talvez observe. Ou talvez vá para a cozinha, corte uma cebola e chore. Ou apenas belisque o caviar enquanto ouco os gemidos inspiratórios lá do quarto. Meu marido está prestes a ser reconhecido no meio cultural de Viena, até mesmo um lugar na Universidade lhe foi oferecido. Eu quero estar ao seu lado neste momento. E em todos os outros. Até que a morte nos separe, amém.