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boas dicas, miados, risos

TOCA RAUL

08 fevereiro 2003

NOLLENDORF PLATZ
Eles nao se conheciam pessoalmente. Mais um daqueles encontros clássicos modernos de internet. Encontrei Adolfo em frente ao Zoo, do outro lado do terminal de ônibus. Fazia tanto frio que, depois de nos abracarmos, corremos para o mais próximo refúgio aquecido, o Hermsburguer. Comi bolinhos da primavera e ele, um Döner. Ele tinha um celular emprestado que tocou, ou vibrou, eu nao ouvi. Combinaram de se encontrar ali mesmo, ele estava próximo. Em quinze minutos, enfrentamos o frio por um momento, mas logo encontramos um mirante aquecido, uma janela do MacDonald´s. Ele chegou, celular na orelha, ligando pro Adolfo que, quando o viu, soltou em um susto “Ai, meu Deus, acho que ele é gordo”. Coisas do mercado virtual de gente. Muito elegante, de Viena, uma bichona, biba mesmo, gracinha. Reinhardt nos convidou para irmos ao Cafe Berio, em Nollendorf Platz. Era ator e também cantor. Disse que gostava de Viena, mas que as possibilidades de trabalho em Berlim eram melhores. Enquanto falávamos, descíamos correndo as escadas do U2, fugindo do vento. Dentro do trem, conversa multi-lingual. Duas estacoes, uma quadra, o calor do bar. GLS. Nao havia mesa vazia e invadimos a de alguém que lia muitos jornais e revistas. Fomos tao intrusos, que ele mudou-se para a mesa de outrem. Reinhardt era muito amável e contou que também havia morado em Roma, onde estudou canto. Antes, era ator. Foi quando seus pais faleceram que Reinhardt deixou, por 7 anos, das duas atividades. Que fabulosa interrupcao! Eu gostaria de saber mais, nao tive a oportunidade de perguntar sobre os efeitos de tal fato: como teria sido, hoje, cantar e atuar de novo, quais as novas sensacoes, os novos conflitos e o que restara do passado. O café macchiato que tomei era delicioso e o homem que expulsamos da mesa estava conversando muito proximamente com seu novo vizinho mesal: boa acao do dia! Eu tentando ligar pra Teresa, fui até os telefones do lado de fora (aparentemente, a Deutsche Telekom consertou seus orelhoes sem orelha), nada. Reinhardt estava adorando o infinito papo, passava a mao no ombro de Adolfo quando este dizia que precisava aprender alemao. “E entao”, Adolfo, pra mim, “você quer ver o Daniel Baremboin na Filarmônica esta semana?“ Eu, hesitando em marcar qualquer coisa estes dias, “Bem...“ “Nao vai rolar”, disse Adolfo, talvez antecipando minha resposta. Entao apareceu um amigo, “Grüß dich”, disse Reinhardt, e virou-se para ele. Houve um desvio e uma pausa na nossa conversinha a três, em que Adolfo aproveitou e me disse, novamente: “Olha, nao vai rolar, nao fui com a cara”. Com a cara do cara, enfim, do pobre Reinhardt, que, a partir dali, passou a ser alvo da nossa pena. “O que será que eu digo, digo na cara que nao rola nada?”, me perguntou Adolfo, ansioso. Eu encontrei a melhor saída num “nao sei”, pois nao tenho a menor prática neste mundo virtual que se materializa. Fui ao colorido Toilette e voltei, estavam me esperando e eu também meio que fui levando todo mundo a colocar seus casacos e ir embora. Procurei minhas luvas e aproximei-me dos dois, ouvi coisas como “it was nice meeting you...”, ôôpa, dois passinhos para o lado, saí de banda e esperei o último tchau sem promessas e tal. Tomamos um café e conversamos e fomos embora e talvez nunca mais nos encontremos. Fugidios passos na Nollendorf Straße.
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