artevida

História verídica de hoje:
Indo pra casa almoçar, de bicicleta, tem uma passagem embaixo de um prédio que separa duas ruas. Entro na passagem meio rindo, porque quase dei num pilar há 10 metros e dois carinhas riram e eu tava rindo de mim mesma enfim, vi um cara vindo na minha frente. Desviei, ele tava na direita, fui pra esquerda, fui indo, ele também, mas ele veio NA MINHA DIREÇÃO e, quando vi, o cara me prensou na cerca do lado e me deu um soco no estômago!! Por eu estar andando de bicicleta em cima da calçada! Porra, qual é? Ele que me agride e eu que tô errada?? Pois eu, andando de bicicleta em cima da calçada, presto atenção e sou muito mais cuidadosa com as pessoas do que ele, que, do nada, vem e soca uma mulher que vem na direção contrária!
Quanta raiva, minha gente, fui na polícia, que era a 20 metros dali, mas cheguei à conclusão de que não me serviria de nada. Fiquei pensando em voltar e dar uma porrada nele, mas resolvi que iria quebrar a corrente raivosa, não passo mais pra frente o que não me agrada. Enterrei, choveu em cima.

Ok, terroristas, vocês venceram: conseguiram transformar todo e qualquer cidadão comum em potencial colega.

Às 3 da manhã a DJ Brazilian Precious ainda recebe visitas no Schikaneder: o amigo e o compositor iraniano, um senhor dono de um cachorro reprimido que só gane. Foi direto na mesa da Dj, mostrou o CD recém-queimado, disse "pode mixar aí com alguma coisa, dura 18 minutos". CD colocado, vem o compositor, diz "Isto é uma espécie tiração de sarro", enquanto a DJ se pergunta sobre o que seria a tiração de sarro, ele começa de novo: "não é esta, tenta a número 2". A Dj "tô tocando a número 2". "Ah, então a 3". Toca a 3. "Não é, tenta a 1". Muda de track toda hora, ainda bem que a Rosália de Souza canta sem parar no fundo. "Toca de novo a 2 pra eu ver...é esta!"
Uma vez de volta à estaca zero, agradeceu e foi pra outra sala do bar. A música começa a surgir no fundo dos "lalaiá", uns cantos muçulmanos, diria bem religiosos, com eletroacústica e mais a minha faixa em cima. Não deu 5 minutos, vem o cara que recolhe os copos: "de quem é este CD?". A Dj mente "é meu". Ele meio angustiado: "posso comprar o CD?" "olha, conversa com este cara que saiu daqui agora há pouco, por que?". Ele não se agüentou: "tira isso!....tira isso, vai!". "Por que?" "Isto é música religiosa" "A que religião você pertence?" "Eu sou muçulmano". A Dj não tava a fim de revolta e falou que iria pensar, foi é falar com o compositor e contar o que estava rolando na sala principal. O compositor mandou tirar. Com muçulmano não se brinca!

O filme kitsch do amorzinho austríaco. O jogo do "nao-dizer". Jogo, jogo, jogo. Depois a cena da música. Dizer outra coisa. Deixar a música tocar. Nao dizer. Hauptsache: nao dizer. É doch lindo também! Embora perigoso. Mais perigoso? Talvez nao, talvez sim, quem sabe mesmo o que diz?

Amor é uma disposição, depois uma idéia, então vontade, por fim objetivo.

O brasileiro catarina e o brasileiro paulista numa festa de aniversário de um brasileiro em Viena. Do lado, o italiano que fala português. A festa já rolava há umas 3 horas, leia-se 3 horas em que os convidados só esperavam pela feijoada, leia-se 3 horas em que até o brasileiro catarina, que nao bebe álcool, tomou caipirinha. Nestas alturas (em todos os sentidos), começa a palhaçada com o brasileiro paulista, por causa de seu sotaque italiano. A coisa já se faz ouvir no contraponto entre ele e seu vizinho italiano legítimo, meu pra cá, cazzo pra lá, mangia que te fa bene, a feijoada finalmente chegou. O brasileiro catarina melhora na articulação e elabora, na direção do brasileiro italiano: "mas vc até que fala bem, assim, considerando sua origem". O brasileiro paulista brinca junto, agradece, diz que se esforça, o brasileiro italiano que fala português concorda, ele fala bem sim, tão bem quanto ele mesmo, eis que então vem a pérola catarina; "Mas eu acho que o governo brasileiro deveria patrocinar cursos de português para os estrangeiros assim como vc. Assim, curso de língua mesmo, gramática, ortografia, lhe ajudaria a dominar realmente a língua e seria uma ferramenta perfeita pra sua integração." Palmas pro AMS brasileiro!