artevida

O Giovani trabalha no Schikaneder. Ele é de São Paulo. Tem todas as tatuagens clássicas: a cruz no ombro, a cobra saindo debaixo da manga, imagina ele sem calça o que nao deve ser. Faz jornalismo e seu trabalho de conclusão de curso vai ser sobre a Igreja Evangélica do Reino de Deus e a televisão. Não existe nada melhor do que um balcão e um garçom conhecido quando se vai sozinha ao bar. A conversa começou no tradicional, como é que você conseguiu trabalhar, o primeiro emprego na Áustria (assunto de sobrevivência) e blah, blah, blah, lembro então que ele me contou da sua pior experiência alcoólica, a única (segundo ele) que o deixou inconsciente: "Foi quando me separei do meu primeiro marido", a razão da tragédia. Tomou sozinho umas 3 garrafas de vinho, entre tintos e brancos, não sabe como foi parar na cama de seu house mate, nem o que aconteceu então: "eu não lembro e ele não conta. Só sei que roupas limpas e certificados dele foram soterrados sob meu vômito." Nada mais tendo a declarar, terminei a cerveja ouvindo os sintetizadores vídeo-game anos 70 e assistindo o Bruce Willis em algum aventureiro americano...

Aqui vai mais um...Agora com justos links...

Moro quase na esquina da Margaretenstraße. Uma rua agitada. No último final de semana aconteceram, ao mesmo tempo, o Hallamasch e a Lange Nacht der Museen. E, no sábado à noite, o movimento aqui da janela do 1o. andar foi grande. Hallamasch é um festival das culturas. Afinal, aqui não é o Brasil, onde muitas culturas fazem uma só, por isso mesmo diversa e curiosa e exótica e o-que-+-se-queira-dizer-sobre-ela. Aqui convivem turcos e curdos. Convivem, não casam entre si. Então tem o Hallamasch, porque é aquela história: no coral, no movimento cultural, o importante é o aqui-agora, é cantar direito e olhar pra frente. Brigar não ajuda. O Hallamasch, como eu já havia dito, é uma mostra das diversas culturas aqui habitantes. Eu ouvi música judaica, enquanto procurava o tal desfile da samba-Schule, ou seja, escola de samba. Aliás, a reunião de TODAS as Sambaschule da Áustria, comandadas pelo rasta paulista Mateus Não-me-lembro-desculpem-o-quê (que mereceu história documentada no filme "Latinos auf der Suche" (Latinos em busca), único filme gratuito no Schikaneder, efeméride). Enfim, a samba-schule chegou e, no palco, o "Só de sacanagem" tocou, além de pagode, a música da sereia que deu na praia, parceria Herbert Vianna e Ministro da cultura do Bragil), a cujo refrão nós e nossos teores alcoólicos prontamente respondemos: AAAAAAAAAHHHHHH! Fim do Brasilianisches Teil no Museumsquartier, entrou A BANDA (porque a ela nem os pífaros de Caruaru se equivalem) de música balcânica e decibéis metálicos acima de 20 kHz. Neste momento, eu sentava numa esquina, entre a Marta e o Fernando. Quase ao mesmo tempo, ouvi da Marta "Que merda!", enquanto o Fernando exclamou "Isto é lindo!". Tamanha contradição merecia uma JANTA e fui pra casa, antes de mais um filme do Schikaneder, no caso, um baseado no livro do Gabriel Garcia Marques, "Cartas do Parque". A dúvida sobre a obrigatoriedade ou não de um ingresso reinava e eu resolvi perguntar para uma esperante, peguei no braço dela e comecei "Por acaso a senhora sabe...", no que ela vira e me olha: "Sabe o quê, Laura?", Putz!, era a irmã do vocalista desejado e não comido Pavel Baxant, a pop-star Bárbara Baxant, integrante da banda de 2 "Silicone Pumpguns". Ela sempre vem com este papo e elogia meu alemão e eu disse pra ela que ela era sempre tão legal e ela "pois é, bonitinha, mas ordinária...isto é um complexo Baxant, Laura!". Momento sério naqueles olhos fundos (terá ela sofrido tanto?). Eu, filosofando, afinal, estes irmãos Baxant, eles todos são um "Ente" só, cada um deles é uma parte do ser "Baxant". Sem dinheiro para pagar os 7€ da entrada, joguei-me novamente na ciclovia da Margaretenstraße, esta rua tão plural, tão pouco rural, uma pequena outra cidade em Viena...

Tenho ficado tanto tempo com a cara no computador, que escrevo meus textículos para o blog à moda antiga, em papel. Antiga também é a máquina de escrever que emprestei do Pavel. Pavel é também o nome do performer para o qual eu e o Ronaldo vamos fazer figuração amanhã, no Tanz Quartier (desculpe, no Mac não tem o link pra linkar). Aí vão então os textos da semana.

Quem quiser mandar um sms pra mim, tem que ir no site da a1, clicar no "sms" pequenininho que tem lá em cima. Depois, embaixo de "rufnummer", digita 4948351 (copiar colar nao dá certo). Deixa o Vorwahl em 0664. Na telona grande, escreve a mensagem. Clica em SENDEN. Na próxima tela, SENDEN de novo. Eu me divirto.

muitos sonhos, muitos sonhos...
primeiro dividi o quarto com uma garota. depois, tive um apartamento todinho pra mim. agora, divido o quarto com um garoto! quanta diferenca, Batman!

só porque eu sou sensível?
só porque eu percebo?
só porque leio seus pensamentos?
só porque sinto o que todos sentem? ao mesmo tempo?
só porque sou naive?
só porque agradeco o fato de estar viva?

Ahhhh!! Eu esqueci de falar de Mocambique, a terrinha portugueisa com certeza, lá no sul da África. Minha amiga Léa e seu aventureiro marido Reinhard passaram 5 semanas com nossos irmaos do outro continente. Poish dish que havia um problema com os carros dos pobres afro-portugueses, diria talvez, muitos problemas, falta total de condicoes: faróis, freios, velas, verdadeiros carros-bomba. Difícil controlar. Muito difícil. Impossível. É, era realmente impossível. Como fazer entao para evitar os acidentes, sendo que a polícia rodoviaria e TODA E QUALQUER INSTITUICAO em Mocambique sofre de corrupcao aguda? Nao tiveram dúvidas: osh manuéis neguinhosh resolveram PROIBIR O TRÁFEGO DAS 9 DA NOITE ÀS 4 DA MANHA!!! Uma viagem de ônibus pelo país é algo absolutamente inconcebível no que diz respeito às condicoes: um dia e meio de viagem sem lugar pra sentar, por exemplo, podem imaginar? A polícia proibe viajantes em pé, claro, entao, quando passa a polícia, o povo no ônibus SE ABAIXA pra nao levar multa, ajudando o pobre e corrupto motorista, evitando que ele lave a mao do corrupto policial quitando a dívida multal. No meio da viagem, como se nao bastasse, bateram as 9, pára o ônibus no acostamento e vire-se pra dormir até as 4, pois dali ele nao sai. Alguns dormem fora, no chao, na terra. E tem que cuidar pra nao ser explodido, pois, desde a guerra colonial (as colônias portuguesas na África foram as últimas a se libertarem do domínio lusitano), há mais de 10 anos, existem MINAS ARMADAS no campo. Fato comprovado pela macica presenca de indivíduos pernaltas e manetas nas vilas camponesas. É um mundo inacreditavelmente grande. Eu sou uma formiga. Nao pretendo nada além disto. Adeus, recolho-me à minha galeria...

Temos na nossa sala um piano meia-cauda e uma televisao: quebrada, é só decoracao. Com um pouco mais de empenho, a foto do pôr-do-sol que está colada na tela vai ser substituída por um vaso de flores, este DENTRO da tela. Natureza morta, invasao evitada, felicidade garantida, seu dinheiro nem se mexe...

Com a chegada do novo compositor a Viena, o Fernando Ronaldo Riederer, está formada (segundo o também compositor Maurício Dottori, nao por acaso, professor dos 3) a 3a. Escola de Viena, composta por 3 compositores catarinas brasileiros, que têm Curitiba como ponto de encontro inicial: eu, Fernando e Wagner. Este último já tem no nome uma escora fácil pra fama, quem diria, veja só você....

Estou em falta, pois é, com este trabalhinho aqui, afinal, passei a semana tentando terminar uma partitura pra mandar pro Brasil. Dureza. Tentando, porque é sempre uma tentativa, em qualquer lugar do mundo, entre amadores e profissionais, a tecnologia é novidade para todos. O negócio é aproveitá-la e rir da possibilidade, aquele riso incrédulo-feliz, nao acreditando e deleitando-se com o resultado!